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Notas sobre Apesar de você Por Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello |
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Na Europa havia mais de um ano, Chico Buarque voltou ao Rio em março de 70, influenciado por André Midani, diretor de sua gravadora, que lhe assegurava "estar melhorando a situação no Brasil". Mas descobrindo ao chegar que, ao contrário, a situação piorara, externou seu desapontamento no samba "Apesar de Você" que, entre outras coisas, afirmava: "Você vai pagar e é dobrado / cada lágrima rolada / nesse meu penar / apesar de você / amanhã há de ser / outro dia / você vai se dar mal / etc. e tal..." Por incrível que pareça, este desabusado recado à ditadura, propositalmente muito mal disfarçado numa fictícia briga de namorados, passou pela censura e foi lançado por Chico num compacto simples. Resultado: o samba estourou nas rádios e já se aproximava da cifra de cem mil discos vendidos, quando o governo entendeu a mensagem e, imediatamente, proibiu a música, recolheu e destruiu os discos e, para completar, puniu o censor incompetente. Apenas se esqueceu de destruir a matriz, o que possibilitou a reedição do original, depois que a tempestade passou. Daí em diante, e até o final da ditadura, Chico Buarque seria impla-cavelmente marcado pelos censores, sofrendo suas letras os mais absurdos vetos e rejeições. A situação chegou ao ponto de ele ter que se disfarçar, sob os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva, para aprovar três com-posições, uma das quais, "Acorda Amor", incluída no elepê Sinal Fechado, em 1974. Descoberta a farsa, porém, a censura criou novas exigências: toda letra apresentada teria que ser acompanhada de cópias da carteira de identidade e do CPF do compositor.
Fonte: Livro 85 anos de Música Brasileira Vol. 2, 1ª edição, 1997, editora 34 | |||
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